sábado, 24 de outubro de 2015

Profissionais que sobrevivem da Arte de Rua em Juazeiro BA



Por Kelly Cora Macedo e Thamires Costa
Argentino, cabelos de dread (estilo de cabelo caracterizado por tranças finas que podem ser feitas com lã ou cera) e barba por fazer. Essas características são do artista de rua Lucas Daniel Larre, figura bastante conhecida nas ruas de Juazeiro, principalmente na Praça da Misericórdia, local onde passa a maior parte do tempo.
Na esteira estendida pelo chão um mix de cores e pedras de diferentes lugares, linhas que viram pulseiras e cordões. Buenos Aires na Argentina, depois Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e, há 4 meses Juazeiro, às margens do Velho Chico na Bahia – Brasil. Aos 18 anos, Lucas Daniel Larre decidiu que queria viajar e desde então percorre  vendendo sua arte e conhecendo pessoas e culturas.
Lucas Daniel Larre 
Segundo ele, a decisão de viajar pela América Latina veio quando percebeu que se ficasse só em sua cidade natal, veria a mesma coisa todos os dias, decidiu então que não queria que sua vida fosse assim e começou a viajar. Já há 11 anos na estrada de carona em carona, Lucas carrega na bagagem muitas experiências. Sobre as situações negativas que já passou, com expressão de quem procura na memória, a resposta que lhe sai dos lábios é “não passei por coisas ruins”, mas logo emenda dizendo que, na verdade, não gosta de pensar muito nessas coisas.
Sobre todas as viagens, Lucas conclui dizendo que é feliz e para ele, toda essa caminhada é um grande aprendizado, já que conhece pessoas e culturas diferentes, algo que sempre quis fazer. De acordo com o artista, “é importante ter a mente aberta para receber todo esse conhecimento”. E completa: “hoje não tenho filhos, mas se um dia tiver, acredito que vou ter alguma coisa para falar para eles”.
Na mesma praça, há mais tempo que Lucas, é possível se deparar com a presença enigmática do seu Paulo, 58 anos, artista de rua, que há muitos anos tem o local como sua segunda casa. Seu Paulo, ou "Paulão", como prefere ser chamado, fez parte do movimento hippie, viajou pelo Brasil e também já teve oportunidade de visitar outros países assim como Lucas. Apesar disso, gosta da sua cidade e hoje não faz mais viagens. A não ser para comprar mercadoria, “mas com a internet nem é mais preciso”, diz o artista.
Lucas produzindo sua arte 
Seu Paulo trabalha com eco joias e orgulhoso afirma que criou os filhos com o dinheiro que ganhou vendendo sua arte e que até hoje consegue se manter sem grandes apertos. “A eco joia é uma maneira de conscientizar as pessoas sobre a valorização da própria natureza, sobre os recursos que possuímos na nossa região e que não são tão valorizados pelos próprios moradores”, explica.
O artista que dribla a fabricação em massa e com os dedos cria o ineditismo de cada peça, seja com uma mochila nas costas, pela América Latina ou somente na Bahia; em português ou espanhol merece respeito e admiração pelo belíssimo trabalho e coragem de nunca rotular a arte ou o belo, mas deixar livre o dom artístico para que ele se apresente em todas as suas formas.
O artista de rua, pela lei n°6.533 de 24 de maio de 1978, é “aquele que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de qualquer natureza”, e, conforme afirma seu Paulo, não deve ser tratado como aquele que “não tem o que fazer”, mas como o que de fato é um trabalhador que cumpre o seu papel social.
Pauta: Thamires Costa
Imagens: Elinete Carvalho
Edição: Kelly Cora Macedo



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